Livro Marcos (William Barclay) 62 Nada podia mostrar melhor a
diferença entre Jesus e os escribas e os fariseus e a boa gente ortodoxa de sua
época. Eles não eram a classe de pessoas com quem um pecador tivesse estado a
gosto. O pecador tivesse sido contemplado por eles com um olhar de dura
condenação, com arrogante superioridade. O pecador tivesse sido afastado da
companhia dos "perfeitos" somente com a frieza do olhar, e a
arrogante superioridade, até antes de entrar nela. Os religiosos ortodoxos da
Palestina se escandalizavam até o mais fundo de seu, ser. Na Palestina, naquela
época, riscava-se uma clara linha divisória entre os que observavam a Lei e os
que estes chamavam o povo da terra. O povo da terra eram as massas da população
que não observavam muitas das regras e regulamentações que seguia a piedade
farisaica convencional. Para o ortodoxo estava categoricamente proibido manter
relação alguma com gente dessa classe. que observava a Lei de maneira estrita
não devia permitir-se contato algum com o povo da terra. Não devia falar com
eles, nem sair de viaje com eles; na medida do possível nem sequer devia fazer
negócios com eles. Casar uma filha com um desses tivesse sido tão triste como
entregá-la em matrimônio a uma besta selvagem; sobre tudo, não devia aceitar a
hospitalidade dessa gente, nem os receber em sua casa como hóspedes. Ao ir à
casa do Mateus e sentar-se na mesma mesa com seus amigos e conversar com eles,
Jesus estava desafiando as convenções ortodoxas de seu tempo. Não temos por que
pensar nem por um momento que todas estas pessoas fossem pecadoras no sentido
moral deste termo. A palavra pecador (jamartolos) possuía um dobro significado.
Significava o homem ou a mulher que quebrantava a lei moral; mas também
significava o homem ou a mulher que não observava a Lei dos escribas. Eram
pecadores tanto o homem que cometia adultério como o homem que comia porco;
eram pecadores tanto o que tinha roubado e matado como o que não lavava as mãos
antes de comer tantas vezes como a Lei dos escribas o prescrevia e da maneira
correta. Entre os convidados do Mateus sem dúvida haveria muitos que tinham
quebrantado as leis morais e que viviam de maneira dissoluta; mas sem dúvida
também haveria muitos cujo único pecado era não observar as normas e
regulamentações dos escribas. Quando Jesus foi acusado de comportar-se de
maneira escandalosa, sua resposta foi muito simples. "O médico",
disse, "vai onde existe necessidade. A pessoa com boa saúde não o
necessita; mas os doentes sim o necessitam. Eu faço o mesmo; vou àqueles que
têm sua alma doente e que mais me necessitam." O versículo 17 é um texto
altamente concentrado. Ao ouvi-lo pela primeira vez pode nos pareceres que
Jesus rechaça toda obrigação para a gente de boa conduta. Mas a ideia é que a
única pessoa pela qual Jesus não pode fazer absolutamente nada, é aquela que se
crê tão boa que não necessita que ninguém a ajude; e aquele com quem Jesus pode
fazer tudo é o que, reconhecendo-se pecador e fracassado, deseja, do mais fundo
de seu ser que alguém vá ajudá-lo a sair do poço. Carecer do sentimento de
nossa necessidade é ter elevado uma barreira entre Jesus e nós; ter o
sentimento de nossa necessidade é ter o passaporte que nos dará acesso a sua
presença. A atitude do judeu ortodoxo para o pecador estava composta de dois
ingredientes(Estudando a Bíblia livro por livro que Deus abençoe a todos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário