
Livro Marcos (William Barclay) 58
O CHAMADO DO HOMEM ODIADO POR TODOS
Marcos 2:13-14 De maneira firme e inexorável as portas da sinagoga se foram
fechando para Jesus. Entre Ele e os guardiães da ortodoxia judaica se declarou
a guerra. Agora o vemos ensinando, não na sinagoga e sim à beira do lago. A
campina será sua igreja, o céu azul seu teto, e a ou a barco de pescadores seu
púlpito. Temos aqui o começo dessa aborrecível situação em que o Filho de Deus
chegou a ser expulso do lugar que se considerava a Casa de Deus. Jesus estava
falando na margem do lago, e ensinava. Esse era um dos métodos de ensino mais
comum entre os rabinos. Enquanto caminhavam de um lugar a outro, enquanto se
passeavam ao ar livre, os rabinos judeus e seus discípulos ensinavam e seus
discípulos, reunidos em torno deles, caminhando com eles, escutavam e lhes
faziam perguntas. Jesus atuava da mesma emanasse que qualquer outro rabino. Galileia
era um dos cruzamentos de caminhos mais importantes do mundo antigo. Dizia-se
que "Judéia não está no caminho a nenhuma parte; galileia está no caminho
a todas as partes". Palestina era a ponte entre a Europa e África. Todo o
tráfico terrestre entre estes dois moderados bebia passar por ali. O grande
caminho do mar levava desde Damasco, atravessando Galileia, passando pelo
Cafarnaum, pelo monte Carmelo e a planície da Sharon, e pela Gaza até o Egito.
Esta é uma das grandes rotas do mundo. Outro caminho importante era o que saía
de Acre, na costa, atravessava o Jordão e se internava na Arábia, até alcançar
as fronteiras orientais do império. Um caminho transitado por caravanas e
exércitos. Mais ainda: Palestina, nesta época, era um território dividido.
Judéia era uma província romana, baixo a autoridade de um procurador romano; galileia
estava governada pelo Herodes Antipas, filho do Herodes o Grande; para o Este
ficava o território que incluía Gaulonitis, Traconites e Batanea, era governado
por Filipe, outro dos filhos do Herodes o Grande. Saindo do território do
Filipe em direção ao reino do Herodes, a primeira cidade que se encontrava era
Cafarnaum. Cafarnaum era então, por sua mesma natureza, uma cidade de
fronteira; por isso era um centro alfandegário. Naqueles dias havia impostos de
importação e de exportação, e Cafarnaum era um dos lugares onde os cobrava. Ali
era onde trabalhava Mateus. É certo que, diferente de Zaqueu, não estava a
serviço dos romanos; deve ter sido um empregado de Herodes Antipas. Mas é
evidente que por ser coletor de impostos a maioria o odiava. (A tradução que se
refere a Mateus como um publicano provém do latim, idioma no qual se denomina
publicanus aos coletores de impostos). Esta história nos diz várias coisas com
respeito a Mateus e a Jesus. (1) Mateus era um homem odiado por seus
contemporâneos. Os coletores de impostos talvez nunca sejam apreciados pela
comunidade, mas no mundo antigo o sentimento de animosidade chegava ao ódio. As
pessoas nunca sabiam com exatidão quanto deviam pagar. Os coletores de impostos
lhes tiravam tanto dinheiro como fora possível, e se guardavam a diferença
depois de ter entregue às autoridades a soma estipulada pela Lei. Até um
escritor grego como Luciano, situa os cobradores de impostos junto com os
"adúlteros, os estelionatários, os aduladores e os impostores". Jesus
simpatizou com um homem que todo mundo odiava. Ofereceu sua amizade a um homem
que qualquer um se envergonharia de ter como amigo. (Estudando a Bíblia livro
por livro que Deus abençoe a todos)