Livro Marcos (William Barclay) 127 Até que ponto esse homem
acreditava estar possuído podemos perceber por sua maneira de falar. Às vezes
ele o faz no plural, como se através dele se expressassem todos os demônios que
levava dentro de si. Até tal ponto estava convencido de sua posse que ele os
sentia falar através de si. Quando lhe foi perguntado o nome, disse que se
chamava Legião. Uma legião era um regimento do exército romano composto por
6.000 soldados. É muito provável que aquele homem tivesse visto um desses
regimentos partindo pelos caminhos de sua região e acreditava que tinha dentro
de si todo um batalhão de demônios. De todos os modos, os judeus acreditavam
que nenhum homem era capaz de sobreviver a tira de consciência de todos os
demônios que o rodeavam. Eram como a terra que se revolve em um campo quando
está sendo semeando. Havia mil à direita e dez mil à esquerda. A rainha dos demônios
femininos estava sempre rodeada por uma corte de 180.000 seguidoras. Havia um
dito judeu que expressava: “Uma legião de espíritos malignos está à espreita em
torno de cada homem, dizendo: ‘Quando cairá nas mãos de um de nós e poderemos
tomar posse dele?’ ” Sem dúvida este pobre miserável sabia tudo isto e sua
mente confundida tinha adquirido a convicção de que toda uma legião de seres
malignos o possuía. Mas, por outro lado, Palestina era um território ocupado.
As legiões romanas, em seus momentos de maior irresponsabilidade, eram culpadas
de atrocidades que nos congelariam o sangue. Muito possivelmente este pobre
infeliz tinha visto ou sofrido os crimes e a rapina, que acompanhavam muitas
vezes o passo das legiões, ou possivelmente tenha visto seus seres mais
queridos sofrendo tais excessos. Possivelmente foi uma experiência assim o que
terminou por arbitrário à loucura. A palavra Legião conjurava para ele imagens
de terror, morte e destruição. Estava convencido de que tinha dentro de si
seres malignos capazes de qualquer barbaridade. Não começaremos sequer a
entrever o significado desta história até que não nos demos conta da seriedade
que revestia este caso de posse demoníaca. É evidente que Jesus tentou curar
este homem mais de uma vez. O versículo 8 diz que o Mestre começou usando seu
método habitual: ordenar ao demônio, de maneira autoritária, que saísse do
homem. Aqui, entretanto, não teve êxito. O que fez depois foi perguntar o nome
do demônio. Naquela época se acreditava que se a gente descobria o nome de um
demônio possuía poder sobre ele. Uma fórmula mágica muito antiga dizia:
"Abjuro-te, espírito demoníaco, a que diga qual é seu nome..."
Acreditava-se que ao conhecer o nome, esse demônio diminuía seu poder maligno.
Neste caso tampouco deste modo se conseguiram resultados aparentes.(Estudando a
Bíblia livro por livro que Deus abençoe a todos)