Livro Marcos (William Barclay) 254 (c) Não obstante, uma vez que se há dito tudo o que se pode afirmar contra João e Tiago, encontramos que o relato nos diz algo muito radiante sobre eles: podiam estar surpreendidos mas continuavam crendo em Jesus. É assombroso que estes dois homens até pudessem relacionar a glória com um carpinteiro da Galileia que tinha provocado a inimizade e a oposição mais amarga dos líderes religiosos ortodoxos da época e que aparentemente se encaminhava indubitavelmente para a cruz. Aqui percebemos uma confiança e uma lealdade tremendas. João e Tiago podiam estar confundidos mas há um fato inegável; tinham o coração bem posto. Jamais duvidaram da vitória final de Jesus. (3) Diz-nos algo sobre o conceito de grandeza que Jesus sustentava. Diz-lhes: "Podem beber do copo que eu bebo, ou ser batizados com o batismo com que eu sou batizado?" Aqui Jesus emprega duas metáforas judaicas. Nos banquetes reais, o rei costumava oferecer sua taça aos convidados. O copo se convertia, então, em uma metáfora para referir-se à vida e a experiência que Deus oferecia aos homens. “O meu cálice transborda”, disse o salmista (Salmo 23:5), ao referir-se à vida e a experiência de felicidade que Deus lhe tinha dado. “Na mão do SENHOR há um cálice”, disse o salmista (Salmo 75:8) quando pensava no destino que esperava os maus e os desobedientes. Quando Habacuque pensa nas calamidades que tinham descido sobre o povo do Israel, diz que beberam “o cálice da mão direita do SENHOR” (Hab 2:16). De maneira que a taça ou o copo se refere à experiência que Deus destina aos homens. A outra frase que Jesus emprega resulta confusa na tradução literal. Fala do batismo com que foi batizado. A palavra grega baptizein significa inundar. O particípio passado (bebaptismenos) significa submerso e em geral o emprega para significar que alguém está submerso em uma experiência. Diz-se que uma pessoa muito perdulária está inundada em dívidas, por exemplo. Diz-se que um bêbado está submerso na bebida. Uma pessoa afligida por alguma dor está inundada no sofrimento. Um jovem que se confronta um examinador está submerso em perguntas. Em geral, emprega-se a palavra para referir-se a uma barco que naufragou e está inundada sob as ondas. Esta metáfora está muito ligada a outra que o salmista emprega com frequência. No Salmo 42:7, lemos: “Todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim” No Salmo 124:4 lemos: “As águas nos teriam submergido, e sobre a nossa alma teria passado a torrente”. No sentido em que Jesus a emprega aqui, a expressão não tem nada que ver com o batismo em seu sentido técnico. O que diz é o seguinte: "Podem suportar a experiência terrível que devo suportar eu? Podem tolerar inundá-los no ódio, na dor e na morte como devo fazê-lo eu?" Estava dizendo a estes dois discípulos que não pode haver coroa sem cruz. No Reino, a ideia de grandeza é a ideia da cruz. É certo que em tempos posteriores estes dois discípulos viveram a experiência de seu Mestre. Herodes Agripa decapitou Tiago (Atos 22:2) e, embora não é provável que João tenha sofrido o martírio, sofreu muito por Cristo. Aceitaram o desafio do Mestre, embora o tenham feito às cegas. (Estudando a Bíblia livro por livro que Deus abençoe a todos)
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