Livro Marcos (William Barclay) 74 Marcos 3:1-6 Este é um
episódio crucial na vida De Jesus. E era evidente que Jesus e os dirigentes
ortodoxos do povo judeu divergiam substancialmente em seus critérios. Foi um
ato de valentia, por parte de Jesus, voltar para a sinagoga. Era a atitude do
homem que se nega a ocultar-se em uma posição segura e que se atreve a olhar o
perigo face a face. Na sinagoga fala uma comissão enviada pelo Sinédrio.
Ninguém teria podido deixar de vê-los, porque nas sinagogas os primeiros
assentos eram lugares de honra e eles estavam sentados ali. Era dever do
Sinédrio encarregar-se de quem pudesse desviar ao povo judeu e apartá-lo do
caminho reto que ditava a ortodoxia; e isso era precisamente o que pretendiam
fazer esses representantes. Não tinham ido à sinagoga para adorar a Deus e para
aprender; estavam para vigiar cada um dos atos de Jesus. Na sinagoga havia um
homem que tinha uma mão paralítica. O termo que se usa no texto original em
grego indica que não tinha nascido com esse defeito, mas o sofria como consequência
de alguma enfermidade que lhe tirara as forças. O Evangelho Segundo os Hebreus,
um livro do qual só se conservam uns poucos fragmentos, diz que aquele homem
era pedreiro, e que procurava a ajuda de Jesus porque necessitava de suas duas
mãos para ganhá-la vida e lhe dava vergonha pedir esmola. Se Jesus tivesse sido
uma pessoa precavida e prudente teria feito como quem não o vira, pois sabia
que curá-lo era provocar uma questão com os representantes do Sinédrio. Era dia
sábado e nele estava proibido todo tipo de trabalho, incluindo o trabalho de
curar. A lei judaica era muito clara e precisa com respeito a isto. No sábado
só podia oferecer-se atenção médica se a vida do doente corria perigo. Tomemos
alguns exemplos: No sábado podia ajudar-se a uma mulher prestes a dar à luz.
Podia tratar-se uma doença da garganta. Se desabasse uma parede sobre uma
pessoa, era permitido tirar os escombros de cima do seu corpo até ser
suficiente para saber se a vítima estava viva ou morta. Se estava viva podia
terminar-se de desenterrar, mas se estava morta devia deixá-la até o dia
seguinte. Não se podia curar uma fratura. Não se podia verter água fria sobre
uma torcedura de um membro. Podia aplicar-se uma vendagem singela a uma ferida,
mas não com unguento. Quer dizer, o mais que podia fazer-se era impedir que a
ferida piorasse, mas não se podia curá-la. Marcos (William Barclay) 74 Para nós
é bastante difícil entender isso. A melhor maneira de podermos captar os
alcances da concepção ortodoxa judaica com respeito ao sábado é lembrando que
um judeu obediente nem sequer se defendia de um ataque armado no dia de sábado.
Durante a guerra dos Macabeus, quando a resistência judaica foi vencida pelos
sírios, alguns rebeldes judeus se refugiaram nas covas de uma montanha. Os
soldados sírios os seguiram e o historiador Josefo nos conta que, depois de
lhes oferecer a oportunidade de render-se, coisa que não quiseram aceitar,
"lutaram contra os judeus no dia de sábado, e os queimaram vivos dentro de
suas covas, sem que os judeus oferecessem resistência alguma e nem sequer se
tomassem o trabalho de fechar as entradas de seu refúgio. Não estavam dispostos
a lutar nesse dia pelo respeito que merecia o sábado, até em uma situação tão
desesperada; porque "nossa Lei (Josefo era judeu) exige-nos descansar no
dia de sábado".(Estudando a Bíblia livro por livro que Deus abençoe a
todos)