Livro Marcos (William Barclay) 52 Fazer um buraco nesse teto,
aproveitando o espaço entre duas vigas, era a coisa mais fácil do mundo. Não
ocasionava um dano muito grande, e era muito singelo repará-lo, depois. De
maneira que estes homens fizeram um buraco no teto e desprenderam por ele a seu
amigo, diretamente aos pés de Jesus. Ao ver Jesus essa fé que não se detinha
ante os obstáculos, deve ter sorrido com um gesto de compreensão e avaliação.
Olhou ao paralítico e lhe disse: "Filho, seus pecados lhe são
perdoados." Esta pode parecer uma forma muito estranha de iniciar uma
cura. Mas na Palestina, nos tempos de Jesus, era natural e inevitável. Os
judeus relacionavam intimamente o pecado e o sofrimento. Sustentavam que se
alguém sofria, devia ter pecado. Este, como sabemos, é o raciocínio dos amigos
que visitaram o Jó: "Que inocente se perdeu?", é a pergunta do Elifaz
o temanita (Jó 4:7). Os rabinos tinham um dito segundo o qual "Nenhum
doente será curado de sua enfermidade até que Deus não lhe tenha perdoado todos
seus pecados." Até nossos dias encontramos a mesma ideia entre os povos
primitivos. Paul Tournier escreve: "Não nos dizem acaso os missionários
que a enfermidade é uma marca de impureza entre os povos primitivos? Até os
conversos à fé cristã não se atrevem a participar da comunhão quando estão
doentes, porque se consideram castigados por Deus." Para o judeu, o doente
era um homem com quem Deus estava zangado. E continua sendo uma verdade que
muitas enfermidades são consequência direta do pecado; e mais certo ainda é
que, uma e outra vez, a enfermidade não se deve a um pecado do doente, mas sim
se trata de algo que herdou ou contraiu pelo pecado de outros. Nós, em geral,
não estabelecemos a relação íntima entre a enfermidade e o pecado. Mas os
judeus o faziam. Portanto, qualquer judeu teria sustentado que o perdão dos
pecados era uma condição prévia a qualquer cura. É possível, entretanto, que esta
história contenha um significado muito mais rico. Os judeus estabeleciam uma
relação causal entre o pecado e a enfermidade. Mas, além disso, é possível que
a consciência do paralítico estivesse de acordo com a opinião generalizada de
seu povo. E é possível, também, que a consciência de pecado fora a causa de sua
paralisia. É surpreendente o poder que tem a mente, especialmente a mente
subconsciente sobre o corpo. (Estudando a Bíblia livro por livro que Deus
abençoe a todos)
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