Livro Marcos (William Barclay) 101 Esta versão grega não diz
que o propósito de Deus fora que esse povo fosse tão torpe que não pudesse
entender. Diz que se entorpeceram a si mesmos de maneira tal que não podiam
entender, coisa esta que é muito distinta. A explicação é que ninguém pode
traduzir ou expressar com palavras um tom de voz. Quando Isaías falou ele o
fez, em parte, com um tom irônico e em parte, com desespero, mas cheio de amor.
Pensava o seguinte: "Deus me enviou para trazer a verdade a este povo e
pelo resultado que obtenho, bem poderia ter sido enviado para fechar suas
mentes. Poderia falar com uma parede, seria o mesmo. Dir-se-ia que Deus fechou
suas mentes à verdade." Jesus pronunciava suas parábolas com a intenção de
que penetrassem na mente dos homens e os iluminassem com a verdade de Deus. Mas
via uma profunda incompreensão nos olhos de muitos. Via muita gente cegada pelo
prejuízo, ensurdecida por seus próprios desejos, muito lentos para pensar.
Voltou-se para seus discípulos e lhes perguntou: "Recordam o que Isaías
disse uma vez? Disse que quando foi a Israel, o povo de Deus, com sua mensagem,
estava tão pouco disposto a entender que se podia pensar que Deus tinha fechado
suas mentes em lugar de abrir-lhe Isso é o que eu sinto hoje." Quando
Jesus disse isto não o fez com raiva, irritação, amargura ou exasperação.
Disse-o com o desejo do amor frustrado, com a aguda dor de alguém que trazia um
grandioso dom que os homens não recebiam por sua cegueira. Se lermos esta
passagem sem imaginar um tom de amarga exasperação, o tom do amor entristecido,
nos parecerá muito distinto. Não nos falará de um Deus que cegava
deliberadamente os homens e lhes ocultava sua verdade, mas sim de homens tão
incompreensivos que parecia quase inútil que o mesmo Deus tratasse de penetrar
a cortina de aço de sua incompreensão. Não permita Deus que escutemos sua
verdade dessa maneira! A COLHEITA ESTÁ GARANTIDA Marcos 4:13-20 Para aqueles
que ouviam a Jesus, cada detalhe desta parábola era algo real porque provinha
da vida cotidiana. Mencionam-se quatro tipos de solos. (1) O solo duro à margem
do caminho. A semente podia cair de duas maneiras neste tipo de terreno. Os
campos da Palestina estavam dispostos em fatias largas e estreitas. Estas
fatias estavam divididas por pequenos atalhos pelos quais se podia caminhar.
Por causa disso se endureciam tanto como um pavimento de cimento dada a
quantidade de gente que os transitava. Quando o semeador pulverizava a semente,
uma parte dela podia cair nestes atalhos e ali não tinha nenhuma possibilidade
de crescer. Mas havia outra forma de semear na Palestina. Às vezes se punha uma
bolsa cheia de sementes sobre o lombo de um asno, se fazia um corte em um dos
extremos da bolsa e logo se fazia o animal caminhar de uma ponta à outra do
campo enquanto caía a semente. Era inevitável que parte da semente caísse sobre
o caminho quando se conduzia o animal até o campo, e inevitavelmente as aves se
equilibravam sobre ela e a comiam. Há alguns em cujo coração a verdade cristã
não pode penetrar. Essa impossibilidade se deve à falta de interesse do ouvinte
e essa falta de interesse, por sua vez, deve-se à incapacidade de perceber a
importância da decisão cristã. O cristianismo não acha guarida em muita gente,
não porque sejam hostis a ele, e sim porque são indiferentes. Creem que é algo
irrelevante e que podem viver sem ele. Isso poderia ser certo se a vida fosse
um caminho simples onde não existissem tensões nem lágrimas; mas a realidade
concreta é que na vida de todos os homens chega um momento em que precisam de
um poder distinto ao seu próprio. A tragédia da vida é que são muitos os que
descobrem este fato muito tarde. (Estudando a Bíblia livro por livro que Deus
abençoe a todos)
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