Livro Marcos (William Barclay)
160 COMPAIXÃO PELA MULTIDÃO Marcos 6:30-34 Quando os discípulos voltaram de sua
missão, informaram a Jesus de tudo o que tinham feito. As exigentes multidões
eram tão insistentes que não lhes davam tempo nem para comer; assim Jesus os
levou consigo a um lugar solitário do outro lado do lago para que pudessem
descansar tranquilos por um tempo. Aqui vemos o que poderíamos chamar o ritmo
da vida cristã. Porque a vida cristã é um constante passar da presença dos
homens à presença de Deus, e sair continuamente da presença de Deus à presença
dos homens. É como o ritmo do sonho e o trabalho. Não podemos trabalhar a não
ser que tenhamos nosso tempo de descanso e o sonho não vem a não ser que
tenhamos trabalhado e estejamos bem como uma boa mulher, e nada tão mau como
quando cansados. Há na vida dois perigos. Primeiro, o perigo de uma atividade
muito constante. Ninguém pode trabalhar sem descansar, e ninguém pode viver a
vida cristã a não ser que tenha momentos de encontro com Deus. Talvez todo o
problema de nossa vida resida em que não damos oportunidade a Deus para nos
falar, porque não sabemos estar calados e ouvir, não lhe damos tempo para nós recarregar
de energia e forças espirituais, porque não dispomos de um momento para
aguardar que o faça. Como podemos pôr o ombro às cargas da vida se não tivermos
contato com aquele que é o Senhor de toda boa vida? Como podemos fazer a obra
de Deus, a não ser com a força de Deus? E como podemos receber essa força se
não procurarmos em quietude e solidão a presença de Deus? Mas, em segundo
lugar, existe também o perigo de muito isolamento. A devoção que não termina em
ação não é verdadeira devoção. A oração que não termina em trabalho não é
verdadeira oração. Nunca devemos procurar a comunhão com Deus para evitar a
comunhão com os homens, a não ser para nos capacitar melhor para ela. O ritmo
da vida cristã é a alternância do encontro com Deus no lugar secreto e o
serviço aos homens na praça. Mas o descanso que Jesus procurava para si e seus
discípulos não teria que ser ali. A multidão viu que Jesus e seus homens se
afastavam. Nesse preciso lugar o cruzamento do lago em barco significava uns
seis ou sete quilômetros e dando a volta a pé pela borda uns dezesseis
quilômetros. Em um dia sem vento ou com vento contrário, o cruzamento em barco
teria demorado o bastante, e uma pessoa vigorosa teria podido rodear o extremo
do lago e chegar antes que a embarcação. Isto foi exatamente o que ocorreu, e
quando Jesus e seus discípulos desembarcaram do barco a mesma multidão da qual
tinham querido descansar um pouco estava ali aguardando-os. Qualquer homem
comum se teria sentido profundamente vexado. O descanso que Jesus tanto
desejava e que tão bem se ganhou, era-lhe negado. Qualquer homem comum se teria
ressentido, mas Jesus se encheu de piedade diante da necessidade da multidão.
Olhou-os; estavam tão desesperadamente ansiosos; queriam tanto o que só Jesus
podia lhes dar, que lhe pareceram ovelhas sem pastor. O que significava isto? (Estudando
a Bíblia livro por livro que Deus abençoe a todos)
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