Livro Marcos (William Barclay) 128 Jesus sabia que havia só
uma coisa capaz de curar a este homem, ou seja: uma demonstração indubitável de
que os demônios o tinham abandonado definitivamente, indubitável pelo menos do
ponto de vista de sua visão do mundo. Não importa se nós acreditemos ou não na
posse demoníaca; aquele homem acreditava nela. Até se a ideia era outra das
muitas ideias confusas que habitavam sua mente doente, os demônios para ele
eram uma realidade objetiva. O doutor Rendle Short, referindo-se à suposta
influência maligna da Lua (Salmo 121:6), que aparece na palavra
"lunático", diz: "A ciência moderna não reconhece que provenha
da Lua dano algum. Entretanto, é uma crença muito generalizada que a Lua
afetaria mentalmente as pessoas... É bom saber que o Senhor nos pode livrar dos
perigos imaginários tanto como dos perigos reais. Muito frequentemente os
imaginários são mais difíceis de enfrentar." Este homem precisava ser
libertado; não importa se essa liberação era de uma imaginária posse demoníaca
ou de demônios verdadeiros. Aqui é onde entra joga um papel a manada. Estavam
pastando na ladeira. Este homem pensava que os demônios suplicavam que não os
destruíra, e sim que lhes permitisse habitar nos porcos. Durante toda a
entrevista o atacavam acessos de convulsão espasmódica e dava gritos, sinais da
enfermidade que sofria. De repente esses movimentos convulsivos e gritos
alcançassem um nível mais agudo e terrífico. Nesse momento os porcos começaram
a correr e se precipitaram pelo escarpado. Essa era a prova concludente que o
homem necessitava para ficar convencido de sua cura; não tivesse aceito outra
evidência. Jesus, sendo um mestre na arte de curar, compreendendo o pobre
doente que tinha diante de si, mostrando em cada ação o carinho compassivo que
despertava nele o sofrimento do doente, usou o episódio para ajudar o infeliz a
recuperar sua saúde, e desse modo restaurou a paz a sua mente perturbada. Há
gente muito fastidiosa que acusa a Jesus de ter matado os porcos para curar o
homem. Queixam-se da crueldade para com os animais que fica manifesto neste
milagre. Esta forma de ver as coisas sem lugar a dúvidas é um modo particularmente
escandaloso de cegueira. Como pode alguém atrever-se a comparar o destino de
uma manada com o destino de um homem, cuja alma é imortal? Presumo que a
maioria de nós não tem constrangimento em sentar-se à mesa e comer carne, nem
rechaçaria uma boa chuleta de porco porque para produzi-la se teve que matar um
porco. Se matarmos animais para não passar fome não podemos objetar a morte de
um rebanho desses mesmos animais quando se trata de devolver a paz a um doente.
Há um sentimentalismo barato que adoecerá de tristeza ao pensar no sofrimento
de um animal, mas que é incapaz de mover um dedo para evitar mudar a desgraçada
condição de milhares e milhões de seres humanos na Terra. Isto não quer dizer
que não deve nos importar a sorte das distintas criaturas viventes que formam
parte da criação divina, porque Deus ama a cada um dos seres que fez, mas terá
que conservar um certo sentido da proporção; e na escala de valores de Deus o
mais importante no universo é o homem. (Estudando a Bíblia livro por livro que
Deus abençoe a todos)
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