Livro Marcos (William Barclay) 96 (1) Jesus partiu do aqui e
agora para chegar ao lá e então. Partiu de algo que acontecia nesse momento na
Terra para conduzir o pensamento dos homens ao céu. Começou com algo que todos
podiam ver para chegar às coisas invisíveis. Partiu de algo que todos conheciam
para chegar a algo que ainda não tinham percebido. Essa era a própria essência
do ensino de Jesus. Não confundia os homens começando com algo que implicava
coisas complexas, estranhas e difíceis. Partia das coisas mais simples, que até
um menino podia entender. (2) Jesus, ao fazer isso, mostrava que creia na
existência de uma verdadeira relação entre o céu e a Terra. Do contrário, não
teria estado de acordo com a opinião de que "a Terra é um deserto
lúgubre". Cria que os homens podiam ver Deus nas coisas comuns, simples e
cotidianas. Como disse William Temple: "Jesus ensinou os homens a ver a
ação de Deus nas coisas normais e comuns: no nascer do Sol, na queda da chuva e
no crescimento das plantas". Faz muito tempo que Paulo expressou a mesma ideia
quando disse que o mundo visível está destinado a dar a conhecer as coisas
invisíveis de Deus (Romanos 1:20). Para Jesus, este não era um lugar perdido e
mau, era a veste do Deus vivo. Sir Christopher Wren está sepultado na Catedral
de São Paulo, em Londres. É uma grande igreja que seu próprio gênio planejou e
construiu. Sobre sua lápide há uma inscrição muito simples em latim que
significa: "Se querem ver seu monumento, olhem a seu redor". Nas
coisas simples da vida, Jesus encontra uma fonte infinita de sinais que
conduzirão os homens a Deus se as interpretarem como corresponde. (3) A própria
essência das parábolas consistia em que eram espontâneas, surgiam nesse momento
e não foram ensaiadas antes. Jesus olha a seu redor em busca de um ponto de
contato com a multidão. Vê o semeador e sob a urgência do momento esse semeador
se converte em seu texto. As parábolas não eram relatos elaborados na tranquilidade
de um estúdio; não eram cuidadosamente pensadas, polidas e ensaiadas. Sua
grandeza suprema consiste em que Jesus pensava e compunha estas breves
histórias imortais nesse mesmo momento. Surgiam a partir das necessidades do
momento e no meio do calor da discussão. C. J. Cadoux disse a respeito delas:
"Uma parábola é a arte disposta para o serviço e o conflito..." Nisso
encontramos a razão pela qual as parábolas são tão escassas. Exige uma boa
medida de capacidade artística, mas uma capacidade exercida em condições
difíceis. Nas três parábolas típicas da Bíblia o relator arrisca a vida. Jotão
(Juízes 9:8-15) contou a parábola das árvores aos homens de Siquém e depois
escapou para salvar sua vida. Natã (2 Samuel 12:1-7), com a parábola do
cordeirinho descreveu seu pecado a um déspota oriental. Na parábola dos
lavradores maus, Jesus usou sua própria sentença de morte como uma arma a favor
de sua causa. Em seu uso mais característico, a parábola é uma arma para a
discussão que não foi elaborada em uma concentração tranquila, como um soneto,
e sim improvisada em um momento difícil para enfrentar uma situação imprevista.
Em seu emprego supremo, põe de manifesto a sensibilidade do poeta, a
penetração, a rapidez e a riqueza conceptual do protagonista e a coragem que
permite a essa mente trabalhar sem preocupar-se com o conflito e o perigo de
uma luta mortal. Sempre admiramos as parábolas de Jesus, mas quando recordamos
que se pronunciaram de maneira espontânea, sem preparação, sob a excitação de
uma situação concreta, aumenta cem vezes nossa maravilha. (Estudando a Bíblia
livro por livro que Deus abençoe a todos)
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