Livro Marcos (William Barclay) 64 (1) O primeiro ingrediente
era o desprezo. "O homem ignorante", diziam os rabinos, "nunca
pode ser piedoso". Heráclito, o filósofo grego, era um aristocrata
arrogante. Um tal Scítinus se propôs pôr em verso os ensinos do Heráclito, para
que ainda as pessoas mais simples e iletradas pudessem compreendê-lo e
segui-lo. A reação do Heráclito ao inteirar-se deste propósito foi a seguinte: "Sou
Heráclito. Por que me trazem e levam de um lado para outro, analfabetos? Não é
para vós que me tomei o trabalho de elaborar minhas doutrinas, e sim para os
que são capazes das entender. Um verdadeiro homem, em meu conceito, vale mais
que trinta mil semelhantes seus; mas todas as multidões reunidas não bastariam
para fazer um só homem verdadeiro." A única coisa que podia oferecer às
multidões era seu desprezo. Os escribas e os fariseus desprezavam ao homem
comum; mas Jesus o amava. Os escribas e os fariseus se elevavam na exaltação de
sua virtude formal e desde essa altura contemplavam com desprezo ao homem
comum, o "pecador"; Jesus, ao contrário, sentava-se a seu lado, e ao
fazê-lo, o elevava. (2) O segundo ingrediente era o temor. Os ortodoxos tinham
medo de contagiar do pecador. Tinham medo de infectar-se com seu pecado. Eram
como um médico que se negasse a atender um caso de enfermidade infecciosa por
medo de contraí-la. Jesus era o que se esquecia de si mesmo com tal de salvar a
outros. O homem em cujo coração se alojam o desprezo e o temor jamais poderá
ser pescador de homens. A ALEGRE COMPANHIA Marcos 2:18-20 Para os judeus mais
estritos o jejum era uma prática regular. Na religião judaica havia somente um
dia do ano em que era obrigatório jejuar, e esse dia era o Dia da Expiação. O
dia em que o povo confessava seus pecados e era perdoado, era o dia de jejum
por excelência. Mas os judeus mais estritos jejuavam dois dias por semana, as
segundas-feiras e as quintas-feiras. Deve destacar-se que este jejum não era
tão severo como pode parecer, pois durava das seis da manhã às seis da tarde.
Fora destas horas podia comer-se tudo. Deve destacar-se que Jesus não estava
contra o jejum como tal. Há muito boas razões que podem impulsionar a um homem
a jejuar. Alguém podia negar-se coisas que mais lhe agradavam, para cultivar a
disciplina, para estar seguro de que seguia sendo amo e não escravo da
comodidade, do lazer e do prazer, para estar seguro de que não tinha chegado a
amar tanto essas coisas que pudesse as abandonar. Podia negar-se os prazeres e
as comodidades que mais o alegravam para, depois da renúncia, adquirir uma
maior conscientiza do valor que tinham. Uma das melhores maneiras de valorizar
nossos lares é ter que passar algum tempo longe deles, e uma das melhores
maneiras de apreciar os dons de Deus é passar algum tempo sem eles. Estas são
boas razões para jejuar. O problema com os fariseus era que na maioria dos
casos o jejum não era mais que uma maneira de demonstrar sua piedade ante
outros. Para chamar a atenção dos homens para sua própria bondade. No dia de
jejum ficavam de cara triste e andavam com a roupa desordenada para que ninguém
pudesse deixar de dar-se conta de que estavam jejuando e para que todo mundo
visse e admirasse sua devoção. E jejuavam para que Deus pusesse atenção em sua
piedade. Esperavam que mediante este ato de piedade não exigido Deus se fixasse
neles. Seu jejum era um ritual e um ritual para sua própria exibição. (Estudando
a Bíblia livro por livro que Deus abençoe a todos)