
Livro Marcos (William Barclay) 38 O doutor A. Rendle Short
menciona um fato que nos assinala até que ponto o homem da antiguidade
acreditava na existência real dos demônios. Em muitos cemitérios antigos se
encontra uma grande quantidade de cadáveres cujas caveiras foram trepanadas.
Quer dizer, são caveiras nas que se praticou um buraco. Em um cemitério, de cem
crânios, seis tinham sido trepanados. Com os precários recursos cirúrgicos da
época a operação não era nada fácil. Além disso, era evidente, pelo crescimento
extra do osso, que a operação tinha sido praticada em vida. Por outro lado, o
buraco era muito pequeno para ter tido alguma utilidade prática cirúrgica ou
médica. Sabe-se, também, que o disco de osso que se tirava do crânio muito frequentemente
era levado como um amuleto, pendurando do pescoço. A razão de ser da trepanação
era permitir que o demônio pudesse abandonar o corpo do paciente. Se os
cirurgiões da antiguidade estavam dispostos a realizar tal operação, e se os
pacientes estavam dispostos a suportá-la (não havia anestesia!), a crença na
existência real dos demônios deve ter sido bastante forte. De onde vinham os
demônios? As respostas eram três. (1) Alguns criam que eram tão velhos como a
mesma criação. (2) Outros criam que eram os espíritos de homens malvados que
depois de morrer continuavam realizando suas maldades. (3) A maioria
relacionava a origem dos demônios com a antiga história de Gênesis 6:1-8
(veja-se 2 Pedro 2:4-5). Os judeus tinham elaborado esta história da seguinte
maneira. Havia dois anjos que abandonaram a Deus e vieram a esta Terra porque
se sentiram atraídos pela beleza das mulheres mortais. Seus nomes eram Asael e
Shemaksai. Um deles retornou a Deus, o outro ficou na Terra e satisfez sua
luxúria. Os demônios que habitam a Terra são os filhos e os filhos dos filhos
daquele Shemaksai. A palavra que designa coletivamente os demônios é mazzikin,
que significa "que faz o mal". De maneira que os demônios eram seres
malignos, intermediários entre Deus e o homem que andavam pelo mundo para fazer
mal aos homens. Os demônios, segundo a crença judia, podiam comer e beber e
gerar filhos. Eram terrivelmente numerosos. Segundo alguns, fala-se se até sete
milhões e meio de demônios. Cada homem tinha dez mil demônios a sua direita e
dez mil a sua esquerda. Viviam em lugares imundos, como por exemplo nas tumbas,
e nos locais onde não havia água para limpar-se. No deserto, onde habitavam
muitos demônios, podia ouvir-se o seu uivar; daí ser comum a frase "um
deserto uivante". Eram particularmente perigosos para o viajante
solitário, para a mulher a ponto de dar a luz, para o noivo e a noiva durante a
noite de bodas, para os meninos que ficavam fora de suas casas depois do pôr-do-sol,
e para os que tinham que viajar de noite. Atuavam principalmente ao calor do
meio-dia e entre o pôr e o nascer do Sol. Havia um demônio da cegueira, um
demônio da lepra e um demônio das enfermidades do coração. Podiam transferir
aos homens seus dons malignos. Por exemplo, o mal de olho, que trocava a boa
sorte em má sorte, e no qual todos acreditavam, era um dom demoníaco a certos
seres humanos. Agiam em colaboração com alguns animais, por exemplo a serpente,
o touro, o asno e o mosquito.(Estudando a Bíblia livro por livro que Deus
abençoe a todos)