Livro Marcos (William Barclay) 172 Detivemo-nos bastante sobre estas leis dos escribas, esta tradição dos anciões, porque é contra isto que Jesus estava. Para os escribas e fariseus estas regras e regulamentações eram a essência da religião. Observá-la era agradar a Deus; quebrantá-las era pecar. Esta era sua idéia da bondade e do serviço de Deus. No sentido religioso, Jesus e essas pessoas falavam diferentes idiomas. Precisamente porque Ele não queria saber nada de todas essas regras era que o consideravam um homem mau. Aqui há uma brecha fundamental: a brecha entre o homem que vê a religião como ritual, cerimonial, regras e regulamentos, e o que vê nela o amor a Deus e o amor a seus semelhantes. Na próxima passagem se desenvolverá isto; mas está claro que a idéia que Jesus tinha da religião e a dos escribas e fariseus não tinham nada em comum. AS LEIS DE DEUS E AS REGRAS DOS HOMENS Marcos 7:5-8 Os escribas e fariseus viram que os discípulos de Jesus não observavam as minúcias da tradição e o código da Lei oral acerca do lavamento das mãos antes e durante as refeições, e perguntaram por que Jesus começou citando uma passagem do Isaías 29:13. Ali Isaías acusa ao povo de seus dias de honrar a 'Deus' com os lábios enquanto seus corações realmente estavam longe Do. Em princípio, Jesus acusou aos escribas e fariseus de duas coisas. (1) Acusou-os de hipocrisia. A palavra hypokrites tem uma história interessante e reveladora. Começa significando simplesmente alguém que responde; passa a significar logo o que responde em um diálogo ou uma conversação estabelecidos, quer dizer, um ator teatral, e finalmente significa, não simplesmente um ator em cena, a não ser alguém cuja vida é uma atuação sem nenhuma sinceridade. Aquele para quem a religião é algo legal, para quem a religião significa levar a cabo certas regras e regulamentações, para quem a religião está inteiramente relacionada com a observância de certo número de tabus, no fim de contas tem que resultar, neste sentido, um hipócrita. A razão disto está em que crê que é um bom homem se levar a cabo as práticas e atos exteriores corretos, não importa o que sejam seu coração e seus pensamentos. Voltando ao caso do judeu legalista dos dias de Jesus, no íntimo de seu coração podia aborrecer a seu próximo, podia estar cheio de inveja e ciúmes e de oculta amargura e orgulho; mas isso não importava, enquanto lavasse as mãos corretamente e observasse corretamente as leis a respeito da pureza e a impureza. O legalismo leva em conta as ações externas do homem; mas não leva em conta absolutamente seus sentimentos íntimos. Pode estar servindo a Deus meticulosamente nas coisas exteriores, e ao mesmo tempo desobedecendo-o flagrantemente nas coisas interiores, e isso é hipocrisia. O maometano deve orar a Deus certo número de vezes por dia. Para fazê-lo, leva consigo sua esteira de oração; onde quer que esteja, desenrola sua esteira, cai de joelhos sobre ela, diz suas orações e segue seu caminho. Conta-se de um maometano que ia perseguindo a outro, faca em mão, para assassiná-lo. Justo nesse momento soou o chamado à oração, imediatamente se deteve, estendeu sua esteira de oração, ajoelhou-se, rezou sua oração o mais rápido possível, e logo se levantou e prosseguiu sua perseguição homicida. A oração foi simplesmente uma fórmula e um ritual, e uma observância externa, simplesmente o correto interlúdio na carreira do assassinato. (Estudando a Biblia Livro por livro que Deus abençoe a todos)
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