Livro Marcos (William Barclay) 174 Não há perigo religioso maior que o perigo de identificar a religião com a observância externa. Não há engano religioso mais comum que o de identificar a bondade com certos atos chamados religiosos. Ir à igreja, ler a Bíblia, contribuir financeiramente, até as orações estabelecidas não fazem de alguém homem bom. A questão fundamental é como está seu coração com respeito a Deus e a seus semelhantes. E se, em seu coração há inimizade, amargura, cobiças, orgulho, todas as observâncias religiosas do mundo não farão dele outra coisa senão um hipócrita. (2) A segunda acusação que Jesus lançou implicitamente contra aqueles legalistas foi que substituíam as leis da voz de Deus pelos esforços do engenho humano. Porque em sua direção para a vida não dependiam de ouvir a Deus; dependiam de escutar os engenhosos argumentos e debates, as finas sutilezas e as hábeis interpretações dos peritos legais. A sutileza nunca pode ser base da verdadeira religião. A verdadeira religião nunca pode ser produto da mente do homem. A verdadeira religião deve proceder sempre, não dos engenhosos descobrimentos do homem, e sim simplesmente de ouvir e aceitar a voz de Deus. UMA REGULAMENTAÇÃO INÍQUA Marcos 7:9-13 É muito difícil descobrir o significado exato desta passagem. Gira em torno da palavra Corbã, e pareceria que esta palavra realmente passou por duas etapas em sua significação no uso judeu. (1) A palavra significa presente, dom. Era empregada para descrever algo que estava especialmente dedicado a Deus. Uma coisa que era Corbã era como se já tivesse sido colocada sobre o altar. Quer dizer, estava completamente separada de todos os propósitos e usos ordinários e se tornava propriedade de Deus. Se alguém queria dedicar algo de seu dinheiro ou sua propriedade a Deus, declarava-o Corbã, e depois já não podia ser empregado para nenhum propósito comum ou secular. Parece que, já nesta etapa, a palavra podia prestar-se a usos muito sagazes. Por exemplo, um credor podia ter um devedor que se negava a pagar ou tardava o pagamento. O credor podia dizer então: "O que me deve é Corbã", quer dizer: "O que me deve está consagrado a Deus." Desde esse momento o devedor deixava de estar em dívida com seu semelhante e começava a estar em dívida com Deus, o que era muito mais grave. E o credor bem poderia descarregar sua parte na questão fazendo uma pequena doação simbólica ao templo, e guardando o resto. Em todo caso, o introduzir a idéia do Corbã neste tipo de dívidas era um modo de chantagem religiosa, que transformava uma dívida ao homem em uma dívida a Deus. Ao que parece, a idéia do Corbã já era suscetível de abusos. Se esta for a idéia que há por trás desta passagem, significaria que alguém declarou Corbã sua propriedade, consagrada e dedicada a Deus, como colocada sobre o altar, e logo quando seu pai ou sua mãe, em um momento de necessidade vai a ele em busca de ajuda, ele diz: "Sinto muito, mas não posso lhe ajudar porque nada do que tenho pode usar-se em seu favor, pois está dedicado a Deus." O voto se convertia em uma desculpa ou uma razão para evitar ajudar a um pai em necessidade. O voto que alegava o escriba em realidade implicava a violação de um dos Dez Mandamentos, que são a verdadeira lei de Deus. (Estudando a Biblia livro por livro que Deus abençoe a todos)
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